Tempo que não foi tempo

 

Sem guerra! Teria sido tempo; de esperança, de amar, de rir, chorar, mas pensar sempre mais além… Aquele foi tempo que não foi tempo… porque a guerra não deixou. Foi o camarada, o amigo, que morreu ali ao nosso lado, o outro a quem a mina que ele próprio acionou, ao explodir, deixou marcas para o resto da vida, as físicas e as outras!… Aquela que tendo sido mãe, não foi esposa, a criança soube que teve pai porque outros lhe disseram. Tempo que não foi tempo!…

Também aquele que um dia regressou, mas que não tivera tido tempo para ver o filho nascer, dar os primeiros passos, aprender a dizer mamã, mas também papá. Ao chegar com uma vontade enorme de o beijar, viu o filho fugir com medo, chorando agarrado à mãe. Consequências de um tempo. Que não foi tempo!…

Aquela mãe, que um dia viu o filho partir para a guerra e não mais o voltou a ver, a quem a dor e a tristeza jamais deixaram só. Também para essa mãe, o tempo, passou a ser outro tempo.

 

Guerra!… Palavra triste, que um dia prometi a mim mesmo não mais voltar a pronunciar. Mas o tempo por influência dos homens, tantas vezes obriga-nos a dizer o que não queríamos. De guerra! Todos já ouviram falar… dos que a viveram muitos são os que a desejavam esquecer, mas por mais que se esforcem, jamais o conseguirão. A fome que passaram, a sede que os arrasava, a incerteza que era companheira de todos os dias!… Será hoje, que alguma mina me destruirá? Será hoje, que vou cair na emboscada? Quando será o próximo ataque ao aquartelamento? Será que chegarei a ver o meu filho? Quem serão os feridos que a parelha de helicópteros que nos sobrevoa levará? Como estará a minha família na Metrópole?

De certezas!… Tínhamos apenas a incerteza! Naquele tempo que não foi tempo…

António Eduardo j Ferreira