Resistência à mudança

Existem determinadas situações que são tão óbvias, que parece não haver razão para que algumas pessoas as não vejam… ou então, porque são demasiado impopulares e, quase todos sabemos, que há pessoas para quem a popularidade é mais importante que o bem- estar das populações, outros ainda porque confundem o amanhã com o ontem.

No já distante ano de 1985, durante uma crise diretiva resultante da demissão da direção do clube Cultural e Recreativo Moleanense, então composta pela maioria dos seus fundadores, aconteceram várias assembleias tendo em vista formar nova direção, tinham sido vários os contestatários, mas na hora de resolver não aparecia ninguém.

Fazendo eu parte do grupo que descordava de determinadas orientações, entendi que devia assumir a responsabilidade pelas críticas que fizera e, como não havia solução há vista, mesmo estando à frente de outra instituição cultural da terra, comprometi-me a formar direção, o que foi fácil, aconteceu nas quarenta e oito horas seguintes.

Como não podia presidir à direção das duas coletividades, formei a direção assumindo eu a vice- presidência, “nem sei se a ocupação de tal cargo seria legal”, mas o que mais importava era resolver a situação. Uma das primeiras medidas a ser tomada pela nova direção, por imposição minha, com o apoio de mais quatro ou cinco elementos, e a oposição ainda que tímida dos restantes foi a proibição de vender tabaco. Passados oito meses entendi que devia afastar-me no que fui acompanhado por mais alguns elementos, na semana seguinte os que ficaram decidiram voltar de novo a vender tabaco…

Diziam os que discordavam, pouca importância tem no bar da coletividade não ser permitida a venda de tabaco, os fumadores vão comprar a outro lado. Ninguém tinha dúvidas que isso ia acontecer. Mas a minha intenção, assim como a daqueles que apoiaram a ideia, tinha como objetivo alertar para os malefícios do tabaco para a saúde, não só dos fumadores ativos, mas também daqueles que frequentam os mesmos locais.

Que nesse tempo alguns desconhecessem esses malefícios, talvez se aceitasse… Passados vinte e sete anos, e vemos a atual direção a seguir à tomada de posse, entender como obra prioritário criar condições para ser possível fumar dentro das instalações, torna-se mais difícil de perceber…

António EJ Ferreira