A água que não havia nos Molianos

As pias, os poços, as lagoas, os barreiros, os piões e as peugadas das vacas, tudo servia para juntar água quando chovia

Introdução

Este trabalho procura dar a conhecer aos mais novos e, recordar os mais idosos que possam já ter esquecido, de forma sintética mas objetiva, o que foi a falta de água nos Molianos ao longo de séculos e, como as pessoas tiveram de viver e conviver com essa falta até á abertura do furo.

Para a sua elaboração, no que diz respeito ao passado mais distante, fiz uso de conhecimentos por mim adquiridos quando ao serviço do rancho participei ativamente no trabalho de pesquisa sobre a nossa terra (usos e costumes da sua gente), levado a efeito na década de oitenta do século passado. Na parte dedicada ao furo fui um dos elementos da comissão responsável pela sua abertura como adiante descrevo.

Este trabalho é da minha exclusiva responsabilidade

António Eduardo Jerónimo Ferreira

Julho, 2012

Durante muitos anos, a falta de água foi uma das principais dificuldades para quem desejava fazer dos Molianos o seu espaço para viver, valia as chamadas pias, nome pelo qual eram conhecidas as cisternas na nossa aldeia. Estas eram feitas em aberturas já existentes entre o maciço calcário de onde retiravam a terra que ali existia, depois de limpo um espaço com cerca de três ou quatro metros de comprimento, faziam paredes nos topos, sendo a cobertura feita com pedras arrancadas à medida da largura da pia, que era aquela que a abertura no maciço calcário tivesse, e aí se juntava durante o inverno a água indispensável para gastar ao longo do ano.

O motivo que levava as pessoas a aproveitarem o espaço aberto pela natureza no maciço calcário é que, eram os únicos sítios parcialmente abertos, onde existia só terra ou alguma pedra solta. Havia quem tivesse a pia a mais de um quilómetro de distância da casa onde morava, indo buscar a água com uma bilha que transportavam ao ombro ou à cabeça, fosse homem ou mulher respetivamente, ou utilizando os burros, aqueles que os tinham, (eram quase todos).

Em meados do século vinte, passou a ser possível adquirir algum material explosivo, ou então proceder ao fabrico de forma artesanal, “ainda que proibido” e assim começaram a ser abertas algumas cisternas junto das casas, (poços ou pias como o povo dos Molianos lhe chamava), ainda que sempre de pequenas dimensões.

Para dar de beber aos animais (que eram muitos), havia três lagoas de maiores dimensões que se localizavam de norte para sul, a primeira à entrada do lugar depois de passar à escola dos Covões, outra junto do local onde se encontram a freguesia de prazeres de Aljubarrota com a freguesia de Évora, o chamado poço de fora, já que no mesmo local existem dois poços com cobertura, abertos pelo povo há já muito tempo de onde era tirada a água para uso doméstico, num deles existe uma mina com alguns metros de comprimento, que se destinava a procurar água de nascente que pudesse por ali existir. Havia anos em que a falta era tanta,  que levava as pessoas a guardar a água que tinha servido para lavarem as mãos, e no dia seguinte, depois das impurezas assentarem no fundo dos recipientes onde era guardada, era para os animais beberem.

Em conversa com pessoas nascidas na década de oitenta do século dezanove, nenhuma se lembrava da sua abertura. Tem esses poços grande profundidade se tivermos em conta a época em que foram abertos, como ainda hoje se pode constatar. Segundo relatos das mesmas pessoas, existia no mesmo local mais um poço que terá sido entupido depois de lá dentro ter morrido uma pessoa, (Informação dada pelo senhor António Pavoeiro à data com cerca de noventa anos). A terceira lagoa situava-se a sul do lugar, sendo mesmo a de maiores dimensões e conhecida pelo nome de Barreirão.

Existiam ainda mais dois pequenos barreiros menos relevantes, mas mesmo assim, com interesse para as pessoas, como tinha naquele tempo tudo que servisse para juntar água durante o inverno. Esses barreiros ou pequenas lagoas situavam-se, um junto à serra conhecido pelo barreiro da Soija Nova, o outro ficava junto a um caminho no Vale da Carreira, hoje rua do Barreiro. No sítio onde hoje está o furo havia à entrada do aqueduto que ainda lá existe, um pequeno espaço que juntava água quando chovia, onde algumas pessoas chegavam a ir lavar roupa, (chamado o barreiro da Maria Cancã por ser o nome da senhora que ia lá mais vezes lavar). Existiam ainda, pequeníssimos reservatórios de água os chamados piões, eram pequenas cavidades que existiam (e ainda existem) nas pedras junto ao solo, na sua maioria não armazenavam mais de dois ou três litros, mas eram muitas as vezes que essa água servia para matar a sede a quem trabalhava na charneca, assim como aos pastores que por lá guardavam o gado, (eram muitos nesse tempo).

Para que as atuais gerações fiquem com a ideia de como era importante, tudo aquilo que juntasse água na nossa terra!… Até as patas das vacas, que durante o tempo em que a terra nos caminhos ou nos campos estava macia faziam pequenas poças, que quando chovia juntavam água. Essa água, tantas vezes serviu para matar a sede às pessoas quando andavam pelo campo e não tinham outra por perto.

Durante o tempo em que as lagoas tinham muita água, era autorizado ir busca-la com carros de bois ou outros animais, assim que começava a ser menos e o risco de secar existia, era proibido retirar água, só os animais eram autorizados a ir lá beber, ou quantidade tão pequena que fosse a própria pessoa a transportar, para que assim a água durasse até que a chuva voltasse a cair. Proibição que era rigorosamente cumprida. Mesmo assim, havia anos em que água quase acabava, ficando alguma, pouca, que servia de refúgio para as rãs que nesse tempo abundavam nas lagoas e, para os pássaros beberem. Até meados do século vinte, houve pessoas da nossa terra que em anos de maior seca foram buscar água ao rio a Chiqueda, com carros de vacas e, alguns com uma bilha que transportavam à cabeça ou ao ombro, (conforme fosse mulher ou homem).

No início do último quartel do século vinte também o progresso começava a dar sinais de querer chegar aos Molianos. Foi a partir dessa altura que a falta de água mais se fez sentir, (se queríamos que o progresso não ficasse à porta…), era necessário tentar alguma solução. Por essa altura a pecuária começava a ter maior implantação na nossa aldeia, não tanto pela dimensão das explorações, mas pela quantidade e diversidade das mesmas.

Como acima descrito era a falta de água o problema maior e de mais difícil resolução tendo em conta as novas necessidades. Os que tinham transporte próprio passaram a ir buscar água ao rio a Chiqueda e, outros ainda a Porto de Mós a um furo artesiano que lá existia, onde era necessário pagar uma determinada quantia para poder carregar a água. Aqueles que não tinham transporte próprio e necessitavam de água, a alternativa, era pagar a quem a fosse buscar.

Foi a partir dessa altura que algumas pessoas, poucas, começaram a pensar na abertura de um furo tentando encontrar água, mas não passava disso mesmo só pensamentos. Mas eis que o impossível para alguns, e muito difícil para quase todos, viria a tornar-se realidade! Como o mal de uns por vezes é o bem de outros… certo dia uma viatura que transportava uma máquina perfuradora para a abertura de furos, teve uma avaria e parou na oficina do Rafael Félix de Sousa para ser reparada. Melhor sítio não podia ter encontrado!… Pois permitiu que o Rafael entrasse em contacto com o dono da máquina, procurando saber da possibilidade de abrir um furo nos Molianos e, os encargos monetários que isso acarretava. Grande aventura em perspetiva!… Pois junto à serra do lado oeste as tentativas até então levadas a cabo tinham sido poucas e todas se tinham revelado infrutíferas

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Não existia nenhum furo artesiano ao longo de cerca de trinta quilómetros junto à serra dos candeeiros, de onde brotasse água, mas o Rafael ficou entusiasmado com a conversa que teve com o dono da máquina e, juntando a dita… à sua maneira de ver sempre mais além, não perdeu tempo, pediu ao senhor padre Ramiro para durante a missa dominical, convidar todas as pessoas, para uma conversa a fim de debater o assunto da possível abertura de um furo, conversa essa, que iria ter lugar no salão junto à igreja na tarde desse mesmo domingo, como veio a acontecer.

Como a necessidade de água era tanta e a informação era dada pelo senhor prior, não foi difícil juntar algumas dezenas de pessoas, com curiosidade para ouvir o que o Rafael tinha a dizer acerca da água, tendo em conta dificuldade que havia em conseguir esse precioso bem. Começou o Rafael na sua palestra por dar conta aos presentes da conversa que tinha tido com o dono da máquina, onde pela descrição feita até parecia ser fácil fazer aquilo que antes ninguém tinha conseguido, foi por ele dito, que atendendo à profundidade que os “vedores”diziam que se encontrava a água, (a cerca de oitenta metros), e aos custos prováveis que o dono da máquina tinha falado, nem sequer era necessário haver qualquer comissão, o povo seria todo comissão, não deixa de ser estranho ou talvez não… o facto de que todos que estavam e ouviram o que foi dito acharem que estava bem.

Mas alguns minutos depois chegou um pequeno grupo, de quatro ou cinco pessoas, de que eu fazia parte. O Rafael com a paciência do costume voltou a fazer a mesma conversa para os que chegamos mais tarde. Eu ouvi, e disse que me parecia estar quase tudo bem! Ma essa de não ser necessário uma comissão é que eu não via nenhuma possibilidade de dar certo!… Como talvez outros não vissem, mas nestas coisas de alto risco para muitas pessoas é melhor falar depois, deixando assim as responsabilidades para os outros e, ver onde as coisas vão parar. Mas não foi isso que eu fiz! Aliás, não faz parte da minha maneira de ser, dizer estar de acordo com os outros quando na verdade não estou, e disse porquê.

E o que eu disse foi; se as coisas vierem a correr mal depois ninguém irá assumir a responsabilidade daquilo que não correu como o previsto e, nessa altura irá sobrar para alguém!… Neste caso seria para o mentor da ideia o Rafael, e citei o exemplo daquilo que tinha acontecido à cerca de quinze anos atrás, quando um vedor tinha andado na zona dos poços a tentar saber se havia água naquele sítio e fez “a grande descoberta,” bastava abrir mais dois metros no fundo de um dos poços existentes e a água de nascente começaria a brotar!… Perante tal afirmação as pessoas não esperaram mais, no próprio dia abriram os dois metros, mas claro, de água nada, tiveram que destapar a cobertura do poço para poderem efectuar o trabalho, mas foi tal a desilusão, que este assim esteve vários anos, até que mais tarde alguém se lembrou de o mandar tapar.

Depois de apresentar as minhas ideias, sugeri que fosse formada uma comissão que seria composta por oito pessoas, seriam quatro da freguesia de Prazeres escolhidos pelo Rafael, e as outras da freguesia de Évora, ficando eu com a responsabilidade de as escolher, (o que foi fácil), de realçar que depois de ser apresentada a minha ideia, todos os presentes passaram a achar que assim era melhor!…

A esta distância no tempo poderá fazer alguma confusão o porquê da comissão ser composta por quatro elementos de cada freguesia. O motivo para que assim fosse, foi o de tentar evitar algum ressurgimento de clivagens antigas, que existiram durante muitos anos entre pessoas dos lugares agora irmanados na tentativa de resolução duma situação que a todos afetava.

Aquilo que o Rafael supunha ser fácil sem qualquer comissão, teria sido impossível dado as dificuldades que surgiram no início e durante a perfuração para a abertura do furo, como mais adiante descreverei.

Depois de formada a comissão, foi decidido como primeira diligência a fazer, pedir uma audiência à Câmara Municipal de Alcobaça, o que veio a acontecer na pessoa do então presidente senhor Miguel Guerra que amavelmente nos recebeu, tinha a referida audiência como objectivo, dar a conhecer aos responsáveis da Câmara o nosso projeto, bem como, pedir autorização para a abertura do furo já que a mesma iria acontecer em espaço público, na Rua Nova. O senhor presidente mostrou-se recetivo, mas pouco convicto do sucesso das ideias por nós expostas. Teve como resposta à nossa exposição a seguinte frase: podem abrir o furo a Câmara não se opõe, mas para já não vos prometo nada, se aparecer água nós cá estaremos… mas vejam bem! A camisa de onze varas onde se vão meter.

Mas naquela altura o que nós queríamos era que nos autorizasse a abertura do furo no caminho público… dado ser aí que os vedores diziam existir água, com o passar dos tempos veio a verificar-se que a opinião dos vedores pouco interesse tinha… mas naquele tempo era assim.

Seguiu-se uma consulta à população dos lugares que seriam diretamente beneficiadas (se a obra se concretiza-se como era nossa convicção e a água aparece-se. Que eram Molianos, Covões e Lagoa do Cão), afim de saber da sua disponibilidade para ajudar. Depois de feita essa consulta às pessoas, mesmo com a promessa de ajuda a ser de valores reduzidos, havia que meter mãos à obra o resto logo se veria.

A máquina que dias antes acidentalmente tinha parado nos Molianos, foi colocada no local onde estava previsto abrir o furo, no mesmo dia começaram os trabalhos tendo em vista a tão desejada captação de água, (a expectativa era grande) mas depressa apareceu o primeiro revés, depois de perfurar cerca de trinta e dois metros apareceu uma camada de areia e, a partir daí não conseguiu continuar com a perfuração, vindo a desistir.

Apesar das coisas não começarem bem (o que teria acontecido se a comissão não existisse), não foi o suficiente para abalar a nossa determinação e, logo procuramos saber onde existia uma empresa que nos desse a garantia de dar continuidade ao trabalho entretanto iniciado, sem o risco de nova desistência. Depois de alguns contactos, foi-nos aconselhada uma empresa de Sintra, mais concretamente de Vila Verde. Sem perder tempo lá fomos nós! Na manhã desse mesmo dia tivemos uma reunião com o SR: Celestino Caetano, dono da empresa, onde chegamos a acordo com as condições propostas para dar continuidade aos trabalhos. Passados dois dias a nova máquina estava no local para recomeçar a pesquisa, nesse mesmo dia esteve também um geólogo, que aconselhou, e bem! A recuarmos cerca de dois metros a abertura do furo para que assim ficasse mais afastado da estrada Maria Pia.

Os trabalhos recomeçaram, a euforia era grande até chegar aos oitenta metros de profundidade (era esse o cálculo feito pelos vedores que tinham estado no local para que a água começasse a aparecer), mas passaram os oitenta, cem, cento e vinte, cento cinquenta, e de água nem sinal, a partir dai as coisas começavam a ficar” negras” começavam também os comentários em surdina, uns diziam —¬ pois é! Não fizeram o furo onde o vedor disse, agora não aparece água!… Outros ainda — meteram-se nisto agora desenrasquem-se… nós não gostávamos daquilo que ouvíamos mas íamos mantendo a calma, enquanto a perfuradora continuava o trabalho, mas quando chegou aos cento e oitenta e cinco metros e a água teimava em não aparecer, mandamos parar a máquina e reunimos de urgência em casa do Rafael para decidirmos o que fazer.

A essa reunião os elementos que faziam parte da comissão do lado de Évora apareceram todos, do lado de Aljubarrota apareceu apenas o Rafael, (os outros não apareceram nem deram qualquer explicação…), mas o Rafael logo se disponibilizou para assumir sozinho a parte por ele representada já que os elementos por ele escolhidos à primeira grande dificuldade não apareceram. A partir desse dia não mais fizeram parte das várias reuniões que foi necessário efetuar, ficando a representação da freguesia de prazeres, sempre a cargo do Rafael.

Nessa reunião de que fez parte também o dono da empresa perfuradora senhor Celestino Caetano, foi acordado entre todos que o furo iria continuar até aos duzentos metros, comprometendo-se o senhor Celestino a pagar uma vara (cerca de seis metros). Depois de termos tomado uma bebida voltamos para o local do furo onde reinava grande desilusão. A máquina que estava parada há já algumas horas, voltou a perfurar conforme o combinado para chegar aos duzentos metros mas… para grande surpresa e alegria de todos, depois de perfurar apenas mais um metro, a água começou a brotar do interior da terra aos 186, algumas pessoas mesmo vendo parecia não acreditarem, mas era mesmo verdade, houve vivas, foguetes e muitas pessoas vieram de lugares vizinhos para ver com os próprios olhos, aquilo que junto à serra ainda ninguém tinha visto, a água a brotar da profundida de 186 metros a cerca de dez mil litros por hora.

Depois de aos cento e oitenta e seis metros a água aparecer, a perfuração não parou aos duzentos como pouco tempo antes tinha sido acordado, mas continuou até aos duzentos e trinta e dois, na esperança que o caudal aumentasse, mas tal não veio a acontecer. A primeira grande vitória tinha sido alcançada!… Para quem como nós (comissão), que esteve sujeito a uma pressão terrível naqueles dias, em que era suposto a água aparecer, mas tal não acontecia, escusado seria dizer que foi um dos dias mais felizes na vida de todos nós.

Agora era necessário fazer com que a água chegasse à superfície, mas bombas para trazer a água da profundidade de cerca de cento e oitenta metros, naquele tempo não havia em stock foi necessário encomenda-la, sinalizar com 60% do valor e esperar que ela chegasse de Itália. Passados alguns meses a bomba chegou e, os trabalhos para a instalação da mesma começaram. (A empresa que forneceu a bomba era de Santarém). Durante a abertura do furo apenas no início havia cerca de metro e meio de terra, começando aí o calcário, e depois aos trinta e dois, apareceu uma pequena camada de areia, finda a qual, continuou o calcário até ao fim da abertura do furo, razão pela qual só viria ser entubado até ao ponto onde se encontrava a areia, dado o resto ser apenas calcário, e havia que poupar, pois o dinheiro era pouco para as despesas que era necessário fazer.

Depois do equipamento instalado a água chegava á superfície “agora definitivamente”. Pela primeira vez os habitantes dos lugares de Molianos Covões e Lagoa do Cão tinham à disposição a água de que necessitavam, coisa antes nunca vista, também as pessoas de fora da terra podiam levar água, mas tinham de pagar uma verba entendido como razoável, e não tinham direito a vez, só depois das pessoas dos três lugares se terem abastecido eles podiam carregar. Diziam alguns— mas se eles pagam também deviam de ter direito a vez pela ordem de chegada! Mas a comissão assim não entendeu. Pois as grandes dificuldades para conseguir resolver a falta de água na nossa terra, tinham sido ultrapassadas com a aventura de alguns e o apoio da população local, e como tal tinham de ser compensados por isso.

Havia no entanto, três pessoas de fora da terra que estavam autorizadas a levar água sem que fosse preciso pagar e tinham vez como os da terra, o motivo para que isso pudesse acontecer, devia-se ao facto de todos eles terem oferecido uma verba superior aquela que foi oferecida pelas pessoas da terra. Oferta essa, feita antes de saber se a água ia aparecer ou não!… Essas pessoas foram; o senhor António Coelho, do Casal da Charneca, o senhor José Figueiredo dos Carris, e o senhor Joaquim Machado natural da Lagoa do Cão mas a viver à data no Pinhal Fanheiro. De louvar a atitude do senhor Joaquim Machado, não precisando da água, foi entre todos o que ofereceu a verba maior.

Apesar de todas ou quase todas as pessoas terem colaborado, (dos Molianos de Évora apenas uma pessoa não colaborou, pois segundo a sua perspetiva a água que estava a sair em breve acabava…), a Câmara depois da obra feita também deu uma verba mas pequena para as necessidades que tínhamos. Realizamos alguns eventos, um dos quais foi um torneio de tiro ao pombo. Fomos de propósito a Monte Redondo a uma feira que à data lá se efetuava comprar os pombos (coisa de outros tempos), mas mesmo assim o dinheiro não chegou para saldar a divida, eram necessários mais sessenta contos, verba que foi suportada em partes iguais pelos cinco resistentes, doze contos a cada um. Vendo as coisas a esta distância no tempo até parece pouco dinheiro, mas os tempos eram outros e essa verba que parece pequena não foi possível arranjar entre a população, só passados alguns meses viemos a receber esse dinheiro.

Durante vários meses dia e noite, a bomba esteve sempre a trabalhar, não havia ainda depósito para armazenar a água nem dispositivo para desligar a bomba. Quando não estava ninguém a carregar, a água ia correndo pela azinhaga da badalhoiça como normalmente acontecia naquele caminho durante o inverno. A grande diferença é que agora acontecia em pleno verão!…

Foi em meu entender a obra do século nos Molianos… atendendo ao que representou na melhoria da qualidade de vida das pessoas e, no contributo que deu naquele tempo para o desenvolvimento da nossa terra. Mas, não raramente passa despercebida a grande parte da população! Se os duzentos e trinta e dois metros que estão em profundidade estivessem em altura… certamente seria mais facilmente reconhecida a verdadeira importância desta obra, que apesar dos tempos hoje serem outros, ainda continua a ter.

Os cinco que integravam a comissão e não vacilaram mesmo nas horas difíceis, e se mantiveram até ao fim da obra foram: Rafael Félix de Sousa, António Gustavo Ribeiro, Rogério Ferreira Severino, Manuel Branco da Silva e António Eduardo Jerónimo Ferreira.

Fim